Tem um tempo que parei de contar tudo pra todos. Como minha boca tão grande quanto o céu que me expulsará num futuro pós-morte tem contribuído, tenho feito bom uso de uma vivência quietinha, o estar pianinho, e mesmo quando ansiosa e quase ligeira se torna minha paz de espírito, trato logo de avisar que é na despreocupação que as coisas têm chance de jeito.Não é que coisas maravilhosas não têm ocorrido. Não. Bem pelo contrário: muito mais aos montes que na época em que, impulsiva, narrava, antes mesmo do fato em si, um sonho que desenhei por cima, com frágil papel de seda e lápis cinza - achando que não teria muito problema e que, olho grande, pensamento gordo ou simplesmente inveja branca tinham efeito nenhum sob as circunstâncias a seguir. Depois de teses, fracassos e muito pensar tardio, me dei conta que é melhor que nasçam em mim hipóteses, que cresçam conforme os dias e germine algo bom sem precisar ser dito, como aquela felicidade tão gritante que mal cabia em mim e precisava ser compartilhada, do futuro mesmo incerto. Então, concluo: saber só é que é saber demais. Aprende, menina falante, aprende!E aí parei pra observar em quem essa atitude tinha efeito, em maior ou menor proporção. Eis que quase em todo mundo! E talvez a culpa não fosse os sentimentos ciumentos dos complicados seres humanos e seus recalques, defeitos e preocupações. Que nada... Foi na fragilidade do que ainda não é que me dei conta que uma ansiedade, mais outra e ainda centenas vão afundando aos poucos o caiaque de felicidades possíveis noutros mares, vencendo ondas gigantes, ganhando terras à vista e demais planetas. Resolvi fechar a boca e que, até que tudo esteja nos trinques, dentro dos conformes imaginados e com um sorriso de orelha a outra, responderia apenas com o básico questionado, narraria banalidades do dia-a-dia, iria a fundo no passado, mas deixaria o futuro como assunto pra daqui um tempo (quem sabe quando for presente, ou pretérito perfeito tiver se tornado).Iniciei um diário, saí pra caminhar, pensei em mil outras coisas, marquei compromissos atrasados, liguei para alguns queridos: tudo para preservar a sanidade do que está por vir. Sem manchas, arranhões, outros olhares, e o peso da opinião alheia. Fechados a sete chaves todos os meus downloads da alma que estão bem encaminhados e em processo, mas não merecem ainda entrar na ciranda das boas histórias ou das tão perguntadas novidades. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo da versão prolixa de nós mesmos, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete. E assim surpreender, até a mim mesma. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.