O
encanto vem de dentro. Tem gente que faz nosso coração gargalhar, que abraça
quentinho colando o rosto, que ri de si mesmo, cumprimenta o porteiro, que
respeita o momento, o tempo, o vento. Gente que muitas vezes não sabe por qual
bifurcação do caminho você veio, que tipo de bagagem você vem trazendo, mas tem
certeza de que dedicação e respeito fazem parte do alicerce de qualquer
relação, seja ela amorosa ou não. Gente que te basta e te completa.O mundo anda carente de pessoas desse tipo e falta leveza para
se permitir encantar.
Existem hoje aproximadamente 7 bilhões de pessoas no
mundo, e ainda assim não encontrei uma boa companhia para partilhar meus
passeios aos domingos. Certo livro de cabeceira diz que quando a gente não sabe o
que procura, não sabe reconhecer quando encontra. Será que não sabemos mesmo ou
estamos vivendo nossos dias com os olhares errados?
É
o tal do enxergar com os olhos da face e não da alma. Tocar com a ponta dos
dedos em vez de se permitir uma entrega completa, dessas que abraçam o todo e
mudam a vida da gente. Porque beleza tem-se aos montes, encaixe de beijo na
boca é fácil e se aprende; difícil mesmo é tirar o ar quando se vê. Complicado
mesmo é ser apenas você para o outro, sem máscaras, maquiagens, rodeios, salto
alto, camisa de marca, foto no Facebook ou carro importado e, ainda assim,
a sua essência bastar para o bem-estar do parceiro.
Estas são as pessoas
especiais: aquelas que sabem conceder seu encanto e aquelas que sabem
reconhecer essa dádiva. Porque as pessoas especiais sabem pra quem aparecem.
Tem que existir a sorte de reciprocidade e merecimento. Tem que saber enxergar
além daquilo que a genética e o status social te permitem ver.
Porque amor é assim, acontece ou não, mas se nosso coração está distraído com
os atrativos “errados”, o acaso passa e a gente nem percebe. Este é o segredo
daquele casal da faculdade que, aos olhos dos outros, pode parecer tão pouco
convencional. Mais que a resposta para os desejos um do outro, eles são calma,
aconchego e paz depois de uma semana de trabalho. São parceiros, amantes e
amados; são especiais entre si, para si e só.
As
delícias da vida é ter a oportunidade de esbarrar em várias pessoas especiais
ao longo da travessia. Se o campo for florido, os sorrisos sinceros, os abraços
apertados e os sentimentos genuínos, cedo ou tarde, um beija-flor pousa por ali
e, dentre tantos que se foram, decide ficar. Se for o tempo da migração, nada
se perde pra sempre. Pelo contrário, quando a mágica é real, conserva-se
naquela porção gostosa do amor que sobrevive após o grosso do sentimento
findar. Encanto é isso, a livre aproximação de alguém que tem toda a liberdade
de quando bem entender, partir. Melhor ainda, encanto é a morada sem grades do
amor, que permite o voo para jardins mais floridos – porém, é muito
mais convidativa a doce e livre permanência.
Danielle Daian (adaptado)