domingo, 20 de julho de 2014

Desabafo.

Às vezes a gente decide ficar só, não por medo de se apaixonar, mas por já ter cansado demais o coração com promessas não cumpridas e partidas nunca retornadas. A gente cansa, cansa e cansa de sofrer demais. Chega uma hora que dá uma vontade de se meter embaixo do edredom e ficar encolhidinha na cama, e chorar baixinho, sem ninguém escutar. E por lá ficar, talvez para sempre. Falta de reciprocidade dói. Machuca. Corrói. Você chega a perder as esperanças de que um dia poderá ter alguém do seu lado. Alguém de verdade, que vai valer à pena cada momento sem ele. Mas às vezes dá uma vontade de não esperar. Cadê esse dia que nunca chega?! Só vejo partidas, partidas e partidas ao meu redor. Cadê aquele cara que me fará somente dele?! Parece que todo mundo prefere escolher outras pessoas que você acaba se perguntando "será que eu sou mesmo especial?", "será que eu sou tudo aquilo que falam?", "será que eu valho à pena a ponto de alguém me querer não por um dia, mas por uma vida inteira?". Não tem como essas indagações não pairarem na mente. Não por baixa auto estima, melancolia ou qualquer outra coisa, mas por experiência de vida mesmo. Não é possível que a gente não possa ser feliz. É pedir muito?! Bem, não deveria ser. Mas o que mais vejo são pessoas solitárias por aí. O que mais sinto é esse vazio da falta que você, seja lá quem for, faz na minha vida.

E por opção, sim, por opção mesmo, a gente decide ser fria. Decide não se envolver, afinal, quem garante que dessa vez possa ser?! É melhor não se iludir e ir sem expectativas alguma, do que quebrar a cara mais uma vez. Tem gente que coleciona carros em miniatura. Tem gente que coleciona chaveiros. Tem gente que coleciona carimbos no passaporte. Tem gente que coleciona sapatos. Tem gente que coleciona momentos. Eu coleciono cicatrizes. Não por querer, mas porque simplesmente, de um modo até meio cômico, é só o que acontece. Cicatrizes que se abrem inúmeras e incontáveis vezes, como se quisessem voltar a ser ferida. Dói. Sangrar dói. Cortar o dedo cozinhando, com a faca, dói. Agora imagina algo que você não pode pegar, não pode colocar um band aid, passar merthiolate e assoprar. Ele fica lá, latente. Tem horas que parece que nem tem ferida, nem tem dor. Mas de repente, a história se repete. E lá vamos nós sangrar de novo. Lá vamos nós chorar com essa dor que nunca passa. Lá vamos nós se fechar um pouco mais. E a cada vez que isso acontece, nos fechamos e nos fechamos e nos fechamos, até chegar um ponto em que simplesmente não dá mais. 

E desligamos a nossa humanidade, não porque somos fracos, mas porque já fomos fortes demais e a dor chegou em um ponto que não dá para suportar. É melhor ser frio, é melhor não se importar. E ter isso como opção não é fácil. Mas é melhor que sofrer. Qualquer coisa é melhor que sofrer. Quem gosta de sofrer, me diga?! Quem raios e cargas d'água adora ser rejeitado? Adora ser pisado? Adora ser humilhado? Adora ver a pessoa que gosta indo embora com outro? Quem gosta disso??? Me diga, me diga, me diga?! Se conhece alguém que gosta, por favor, coloque em uma camisa de força e leve para se tratar, porque uma pessoa assim definitivamente não deve ser normal. E se eu não desligar a minha humanidade, pode ser eu a ir em uma camisa de força.

Hoje eu decidi ser fria. Decidi não me importar. Decidi viver só por opção. E não me importo se não vão entender. O importante é estar em paz comigo. Se apaixonar, pra mim, é simplesmente punk. É dolorido. É cheio de partidas. E não quero que ninguém parta. Se é para partir, nem chegue. Não quero ausências. Quero presenças e apenas isso. Ou queria. Agora quero um coração sossegado. E uma promessa, que faço a mim mesma, de não sentir nada por ninguém mais. E espero cumprir.

Maya Quaresma

quarta-feira, 9 de julho de 2014